ESCOVAR OS DENTES ANTES DE DORMIR PODE AJUDAR A PREVENIR INFARTO E AVC

Conforme o estudo, que acompanhou 1.675 pessoas ao longo de dois anos e 11 meses, pessoas que não escovavam os dentes antes de dormir apresentavam mais chances de desenvolver a doença periodontal, inflamação nos tecidos que suportam os dentes que, dentre outros fatores, pode ser causada pela má higienização bucal. Em casos mais sérios, esse tipo de patologia pode provocar não só a perda dos dentes, mas também causar eventos cardiovasculares como o infarto e o AVC (acidente vascular cerebral).

Professor em Reabilitação Oral, o cirurgião-dentista Rafael Ribeiro explica um pouco dessa relação que, à priori, pode parecer difícil de ser visualizada. “No momento do sono, nossa salivação diminui quase a zero e é justamente dentro da saliva que temos uma rede de anticorpos e uma série de fatores que contribuem para extinguir o vírus, além da nossa microbiota presente. Se você dorme sem escovar os dentes e passa por esse período de menor salivação, as bactérias têm liberdade para agir. Isso aumenta a inflamação na região e ela pode se tornar sistêmica, entrando na corrente sanguínea do corpo e potencializando doenças, principalmente o AVC”, explica.

É justamente por causa dessa diminuição da salivação que a escovação mais importante do dia é aquela feita durante a noite. “Pela manhã, escovamos os dentes quase por uma questão social, porque ninguém quer ter mau hálito, ninguém quer estar em um lugar, pegar um ônibus cheio ou conversar com alguém que não esteja com hálito bom”, observa.

Escovar os dentes adequadamente durante a noite, porém, não significa deixar de higienizá-los em outros horários. Como explica Rafael, uma limpeza ideal inclui a escovação feita pelo menos três vezes ao dia, após as refeições principais, e o uso do fio dental. Ele ressalta ainda que é importante tomar cuidado para não exagerar na limpeza e se atentar ao tipo de escova escolhida. “Ela deve ser macia ou extra macia, já que escovas com cerdas duras podem desgastar o esmalte ou machucar gengiva”, explica.

Além disso, a limpeza dos dentes não deve ser feita logo após as refeições – principalmente se foram ingeridos alimentos ácidos. “O ideal é fazer uma lavagem da boca com água, aguardar 30 minutos, escovar e usar o fio dental”.

As visitas ao dentista também devem ser regulares e não somente quando há dor ou quando algum problema aparece. “Uma das causas da doença periodontal é genética, por isso é preciso fazer uma consulta e um acompanhamento. O ideal é que se procure o dentista de 6 em 6 meses para que seja feita a profilaxia com a limpeza profissional, que tem todo um trabalho envolvido, incluindo a remoção do tártaro, da placa bacteriana e, por fim, o polimento dos dentes”, pontua.

Se há algum problema como dor ou sensibilidade, principalmente ao comer alimentos doces, vale buscar um dentista com mais urgência para evitar problemas maiores. “A saúde começa pela boca. Perder um dente pode causar dificuldade na alimentação por causa da má qualidade da mastigação. Engolindo pedaços maiores de comida, você pode desenvolver uma série de problemas, o estômago terá mais dificuldade para quebrar as proteínas ingeridas, o intestino pode apresentar problemas também e as inflamações podem se espalhar para outros tecidos”, afirma.

Higiene bucal da maioria dos brasileiros não é a ideal

Embora muitos profissionais reforcem a necessidade de que os dentes sejam escovados três vezes ao dia, a realidade no Brasil está distante da ideal. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde, feita pelo Ministério da Saúde em parceria com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 9 em cada 10 brasileiros escovam os dentes menos do  que o necessário.

Conforme o levantamento, feito entre 2013 e 2019, cerca de 90% da população higieniza a boca até duas vezes por dia e 63% usam escova, fio dental e pasta de dente. O estudo ainda mostra que 25% das pessoas de 45 a 59 anos, e 28% com idade entre 60 e 74 anos, já tinham perdido 13 ou mais dentes.

O cenário vai de encontro com o que ressalta Rafael Ribeiro. “O Brasil é o país dos desdentados, não só por não ter uma higienização correta, mas também é uma questão multifatorial. Parte da população não tem como recorrer a um serviço especializado. Essa é também uma questão socioeconômica, reflete a falta de instrução e educação”, observa.

Da redação do BLOG RADAR DE NOTÍCIAS – EMANOEL CORDEIRO/O TEMPO